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sexta-feira, 20 de maio de 2011

A Receita Da Morte

Durante o período em que estava montando a minha primeira equipe de vendas costumava acompanhar os aspirantes a consultor de venda de jazigos no intuito de treiná-los orientá-los para a especialização na venda de prevenção.
A idéia básica era orientá-lo de como convencer as pessoas a comprarem um jazigo familiar a titulo de prevenção para que elas não fossem pegas de surpresa pelo o infortúnio “liquido e certo” do evento morte.
Foram muitas histórias curiosas, engraçadas e algumas delas tristes, mas se temos de viver um dia a tristeza para que ficar falando dela, melhor é falar das mais curiosas e engraçadas que já vivi com essa turma.
Certo dia acompanhei um consultor em uma visita que fora agendada pelo departamento de telemarketing para a apresentação do produto.
Ele um sujeito alto magro, cabelos lisos negros, corpo quase atlético, trajava sempre, sempre mesmo, camisa branca calça preta, sapato preto, fala grave, mas suave e simpático como um bom vendedor deve ser.
Tinha experiência com venda de diversos tipos de produtos, mas recentemente vinha do ramo de bebidas, nunca havia trabalhado com a venda de jazigo e para ele tudo era novidade, mas procurava se empenhar para aprender.
O problema é que às vezes ele aprendia de menos e improvisava de mais.
Para facilitar o primeiro um contato com a pessoa a ser visitada,  as operadoras a nos fornecia informações complementares, nas fichas de visitas, sobre os assuntos que foram conversados durante o agendamento.
No impresso da visita havia um campo que se chamava ponto de apoio que era onde elas faziam essas anotações do que conversavam.
Sempre orientei os vendedores a lerem esse campo da visita, com atenção, antes da primeira abordagem, e que deveriam usar as informações, ali obtidas, para facilitar  e suavizar o primeiro contato.
Aquela visita em especial era para Dona Rosa que relatou para operadora que estava muito triste naquele dia, pois o seu cachorrinho havia sido atropelado e agora estava todo machucado dentro de uma caixa de papelão no quintal de sua casa.
Disse que devido a isso estava com o coração palpitando e que o seu diabetes devia estar a mil.
Bom, diante dessas informações orientei para que ele fizesse uma abordagem suave e compenetrada e que logo após nos apresentar ele perguntaria do estado do cachorrinho e após ela responder perguntaria de sua saúde.
Já havíamos feito outras visitas naquele dia onde eu sempre iniciava as apresentações e agora seria seu teste para saber como ele iria se sair com essa abordagem.
Chegamos lá ele tocou a campanhinha da casa e enquanto aguardava fixou um sorriso estranho que só se desfez quando levou uma cotovelada nas costelas indicando que a postura seria outra.
Ele se recompôs e saudou a senhora “agora com uma postura suavemente séria”
Ela já  estava próxima ao portão, ele se identificou e me apresentou como colega de trabalho conforme tínhamos combinado anteriormente.
- Dona Rosa conforme o combinado com a Cleide (nossa operadora) nós estamos aqui para apresentar à senhora o nosso empreendimento e a campanha de prevenção que estamos fazendo em seu bairro, podemos entrar para conversar melhor?
- Olha filho, não me leve a mal, mas estou sozinha em casa e não fica bem recebê-los, você me entende né?
- É claro que entendemos, não tem problema podemos mostrar aqui mesmo, mas a Cleide também comentou sobre o acidente com o seu cachorrinho, puxa que pena, ele ainda esta vivo?
- Mas é claro que esta, ele está bem machucado, mas esta vivo sim senhor! Afirmou ela  com certo tom de insatisfação pela pergunta mal colocada.
A Sorte dele é que estava longe do alcance do meu cotovelo.
Aproveitei para intervir.
- É dona Rosa sei bem como é isso já tive um cachorro atropelado e todos acabaram sofrendo junto com o bichinho, mas ele vai ficar bom a senhora pode acreditar.
- Assim espero meu filho, pois ele é meu companheiro de verdade.
- Vejo que a senhora gosta muito de plantas, tem uma verdadeira horta em seu quintal!
- Pois é aqui tem pé de tudo, inclusive folhas para fazer chás de tudo quanto é tipo.
Genésio interveio:
- Falando nisso a senhora comentou com a Cleide que tem diabetes.
Ponto pra ele. (pensei)
- É verdade meu filho, mas acho que a minha ficou descompensada depois do acidente.
- Sabe dona Rosa a minha mãe também é diabética e ela toma um chá de folha de pata de vaca que inclusive parece com aquelas folhas. – Apontou para uma planta no fundo do quintal.
Mais um ponto.
- Não meu filho aquilo ali é pé de mastruz.
- Me desculpe Dona Rosa, mas acho que é pata de vaca.
Ela abril o portão e falou:
- Venha que eu vou lhe mostrar e agente aproveita e conversa melhor naquela área.
Falou apontando para uma cobertura na frente da casa, onde havia uma mesa com cadeiras.
A planta não era pata de vaca, como ela afirmou, era “mentruz” e eu desconfio que ele nunca viu um pé de pata de vaca.
- Dona Rosa, se a senhora não tem essa planta, precisa procurar, é tiro e queda, esse chá praticamente curou a minha mãe.
- Dona Rosa ficou curiosa e pediu a receita.
- Bom, é assim...
- Primeiro a Senhora pega as folhas fresquinhas do pé e as lava muito bem lavadinhas, depois as envolve em um pano de prato, bem limpo, e soca elas com um martelo de bater carne até elas ficarem bem moídas, depois as coloca no sol durante umas seis horas, até ficarem bem sequinhas, depois as pega e coloca em uma caneca com um litro de água e as deixa ferver por uma hora e pronto é só esperar esfriar colocar açúcar a gosto e tomar todos os dias na primeira hora da manhã
O pior de tudo é que a mulher estava anotando tudo e eu prestando uma atenção enorme para registrar a receita na memória, afinal eu também sou diabético.
É claro que ele perdeu todos os pontos comigo e com a Dona Rosa que o chamou de maluco e perguntou se ele queria matá-la para ir morar no jazigo que estávamos vendendo.
Tentei salvar a situação dizendo que ele deve ter se confundido com a receita e que depois eu falaria com a mãe dele e pegaria a receita correta.
- No fim Dona Rosa mostrou-se uma pessoa bem humorada e até rimos, depois da receita maluca passamos a tratar do assunto que nos levou a visitá-la.
Dona Rosa nos disse que deixou de comprar a prevenção no passado achando que isso não era necessário, mas depois que perdeu o pai entendeu a importância da prevenção.
Agora tinha o pai sepultado em um cemitério municipal e o prazo da exumação estava bem próximo e ela queria levar os despojos para um cemitério parque “como o nosso” devido aos transtornos que teve na ocasião do velório.
A argumentação de venda foi toda baseada na situação que ela enfrentou com a perda do pai e o fechamento foi realizado com umas poucas colaborações do Genésio que ficou um pouco deslocado depois da desmoralizada receita.
Assim que saímos de lá não consegui me segurar e desatei a rir da cara de pateta que ele ficou com a situação.
- Pô chefe, eu estava fazendo o que você ensinou, eu estava buscando as afinidades para melhorar a relação vendedor cliente.
- Tá bom, mas não é assim que as coisas funcionam Genésio, você vai voltar para o treinamento interno para entender melhor o conceito do negócio.
- Mas antes faz o seguinte... Ligue para a sua mãe e pega a receita certa que eu fiquei devendo para dona Rosa, lembra?
- Hii chefe não vai dar não.
- Por quê?
- Porque minha mãe morreu já faz muito tempo.
Fiquei louco para perguntar se ela tinha tomado o chá, mas não consegui e caímos na gargalhada.
Moral da História:
Quem disse que não dá pra vender jazigo e se divertir?
Durval Tobias Filho

Um comentário:

  1. Nossa!!!.....chá de pata de vaca, eu já tinha ouvido falar, inclusive, até já ganhei umas folhinhas pra fazer...mas agora, chá com AÇÚCAR, para diabéticos???!!!.....rsrs....será que foi por isso que ela se foi?...huahauhau..
    Pai to adorando tudo, muito boas essas histórias... ;)
    Beijosss

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