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Palestrante, Training, Consultor Comercial e Sócio do Cemitério Vertical Metropolitano em São Vicente - SP.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

O Calvário de Dona Margot


       Certo dia, recebi a ligação de uma Senhora querendo informações sobre a compra de um jazigo, então sugeri uma visita de um dos nossos consultores para esclarecer pessoalmente sobre os planos e condições de vendas.

A Senhora que se identificou como D. Margot, concordou em receber a visita, mas com a condição de que fosse impreterivelmente naquele mesmo dia.

Na ocasião estava formando uma equipe de pesquisadoras e consultores e todos estavam ausentes fazendo as visitas agendadas do dia anterior, então lá fui eu.

Chegando à residência, fui convidado a entrar por uma Senhora de feições sisuda, cara amarra, estatura média, cabelos negros já mesclados de branco  e um pouco fora do peso. (gordinha mesmo).

Com os olhos um pouco avermelhados, parecia que havia chorado recentemente. Apresentou-se como D. Margot e ao contrário do que pensei, gentilmente ofereceu-me um café e apontou-me uma confortável poltrona.    Educadamente aceitei os dois.

Antes mesmo de falarmos do produto, ela antecipou-se e pediu-me desculpas pela forma como havia tratado uma das minhas pesquisadoras há alguns meses atrás, e explicou-me:

- Há mais ou menos três meses, recebi a visita de uma de suas pesquisadoras que me abordou quando estava varrendo o quintal de minha casa perguntando se eu poderia conceder alguns instantes de atenção para responder uma pesquisa que ela estava fazendo no bairro.
- Ela foi muito educada, apresentou-se e perguntou o meu nome e eu a respondi perguntando do que se tratava, e ela me informou que era uma pesquisa sobre prevenção em cemitérios.

- Pois é Seu Durval, quando ouvi a palavra “cemitério” perdi o controle e cheguei até ameaçar a pobre da moça com uma vassourada. E com a vassoura em riste, falei para ela desaparecesse da minha frente que não gostava desse assunto e que se voltasse iria chamar a polícia.

Envergonhada do seu comportamento preconceituoso e agressivo pediu-me novamente desculpas e continuou:

- Após alguns dias desse episódio perdi a minha querida mãe que há muito convalescia de uma doença degenerativa e foi aí então que começou o meu calvário.

- Sempre achei que o município cuidava das providências de um sepultamento bem como poderíamos escolher em qual cemitério sepultar nosso ente querido, mais dolorosamente, descobri que não é assim que as coisas funcionam.

- Sempre morei “mais ou menos” próximo á um cemitério municipal que é considerado pela população um bom cemitério e por esse motivo acreditei que a minha mãe seria sepultada lá, mas... imagine qual foi a minha surpresa quando fui informada, pelo serviço funerário do município,  que o sepultamento seria feito em outro cemitério que alem de precário ficava distante de minha residência.

- Fui informada que não era possível fazer o sepultamento no cemitério mais próximo devido à falta de espaço e condições técnicas.

Em lágrimas ela contou-me:

- Depois de muito argumentar sobre a importância de um lugar digno para minha amada mãezinha e falar sobre as dificuldades que teria para visitá-la no cemitério indicado, conclui que nada do que falasse iria comover aquele agente, sem a mínima boa vontade de atender os meus apelos e com certeza sem mãe e sem coração.

- Pois bem, mesmo contra a minha vontade o velório e o sepultamento acabou realizando-se no cemitério público indicado pelo  rapaz do serviço funerário, em um local sem segurança, higiene e principalmente, sem dignidade.

Houve uma pausa para ela se recompor.

- Mas a história não acaba ai, enquanto acompanhava o sepultamento, fui abordada por um Senhor “muito mal vestido” que oferecia seus préstimos de jardineiro de cemitério.

Pedi a ele, demonstrando que estava incomodada com a abordagem inoportuna, que aguardasse o término da cerimônia para que pudéssemos conversar.

- Após me recompor, conversei com o sujeito para saber o que ele oferecia. Afinal a idéia de um jardim daria um pouco de dignidade para minha mãe, já que não tinha conseguido um lugar melhor para sepultá-la.

- Encaminhei-me até a administração do cemitério, junto com jardineiro, para checar se ele era conhecido e se podia confiar no adiantamento que ele me pedira.

- Fui informada que ele não trabalhava para o município, mas que era conhecido da administração e que de fato prestava serviços de jardineiro autônomo naquele cemitério.

- Sem cabeça para raciocinar melhor e barganhar preços e condições, paguei o que ele pedia e fiquei aguardando a cruz e o  jardim prometido.

- Passaram-se trinta dias e nada de jardim, liguei diversas vezes e ele sempre jogava para o dia seguinte até que um dia encontrei-o no cemitério e cobrei-o pessoalmente. Foram mais promessas e outro adiantamento.

- Mais dias se passaram e nada de jardim. Até que cansada de tantas promessas, procurei a administração do cemitério que se eximiu de qualquer responsabilidade dizendo que ele não era funcionário do município e e  vivem desse produto e das que precisam dele.açnto e nada de jardim.
empre eia ndo o quintal perguntando se poderia dar algunnão respondiam pelos seus atos, ou seja, "como pilatos" lavaram as mãos.

- Sempre fui muito ligada a minha mãe por isso faço visitas quase que diárias ao cemitério e o problema com esse jardineiro somado aos problemas de locomoção, segurança e higiene fez com que eu tomasse a decisão de tirar a minha mãe desse local horrível.

- Ontem quando voltava de mais uma visita ao cemitério observei que no ônibus a minha frente havia a propaganda de seu cemitério e lembrei-me da sua pesquisadora e resolvi ligar.

Quando apresentei as fotos do cemitério, preços e condições, modelos de jazigo, etc., ela foi logo dizendo.

- Tudo bem, esse jazigo de três gavetas atende as minhas necessidades, mas, só compro nas seguintes condições:

- Primeiro quero conhecer o cemitério pessoalmente, depois quero  transferir “urgentemente” a minha mãezinha do cemitério municipal.

Diante dessas exigências, fiquei muito preocupado e disse que quanto à leva - lá, ao cemitério não teria nenhum problema, mas, com relação a transferir a sua mãe era praticamente impossível, pois existe uma exigência “na lei” que não permite a movimentação ou remoção de um corpo antes do prazo de três anos, que é quando se pode fazer a exumação.

Ela argumentou que com certeza, teríamos um advogado para ajudá-la e que pagaria um extra como honorários advocatícios para que pudéssemos tirar sua mãe de lá e que o único motivo para comprar o jazigo seria para transferi-la de cemitério.

Contra-argumentei que as chances de conseguir uma remoção eram mínimas e que não iria colaborar com o sofrimento dela, oferecendo um serviço que não poderia realizar.

Afirmei que inclusive preferia não vender nessas condições, mas, argumentei que ela deveria considerar que, novamente ela estava deixando passar uma oportunidade de dar dignidade a sua mãe e sua família.

A minha argumentação foi eficiente e ela aceitou conhecer o cemitério, e no mesmo dia fechamos negócio.

Ao retornar conversamos bastante sobre diversos assuntos, filhos, família,  política, etc.

O cemitério ficava bem distante de sua residência, o que de certa forma colaborou para que pudéssemos nos conhecer melhor e estabelecer um bom vínculo de amizade.

Antes um pouco de chegarmos a sua casa, ela pediu-me para dar uma paradinha em uma farmácia do bairro e explicou-me que o dono dessa farmácia,  O Sr. Rubens, tornou-se um bom amigo e que ele cuidou de sua mãe durante muito tempo aplicando-lhe injeções diárias e aviando receitas.

Ao chegarmos lá, fui apresentado como seu mais novo amigo e que vendia um produto muito especial e importante e que ela como amiga não queria que ele sofresse o que ela sofreu.

Ele estava um pouco ocupado atendendo seus clientes e entre um e outro cliente perguntou do que se tratava.

Ela respondeu, antes mesmo que eu abrisse a boca.

- Rubens, você melhor que ninguém sabe do meu calvário quando minha mãezinha morreu e sabe o que ainda sofro muito as conseqüências de não ter feito uma prevenção.

- Pois bem, continuou ela, O meu amigo Durval é um representante de cemitério e trabalha com vendas preventivas de jazigo e infelizmente só agora entendi a importância dessa prevenção e como já comprei o meu vim trazê-lo para você também proteger a sua família, pois o que é bom pra mim também é bom para os meus amigos.

O Sr. Rubens ouviu com atenção o que ela disse e quando tentei mostrar as fotos a as condições fomos “novamente” interrompidos por outro cliente.

Como estava difícil dar atenção ele a distância gritou.

-Olha faz o seguinte, faça um igual ao da Margot, o que você precisa?

Informei que necessitava apenas de uma folha de cheque e a seus documentos para que pudesse preencher a proposta.

Os documentos,  ele pediu para pegar com sua esposa que estava no caixa da farmácia que ao entregar-me os documentos, zombateiramente benzeu-se.

A implacável D. Margot não se deu por satisfeita ainda naquele mesmo dia, levou-me a sua vizinha e amiga apresentou-me da mesma forma e assim fiz a terceira venda do dia.

D. Margot transformou-se em uma espécie de assistente social e representante de cemitério e principalmente em defensora calorosa da compra de jazigo como prevenção familiar.

Obrigado D. Margot.

Durval Tobias Filho


quinta-feira, 16 de junho de 2011

A INVEJA

Ela varria, displicentemente, a calçada da frente de sua casa, enquanto me observava de canto de olho denotando uma curiosidade indisfarçável.

Eu estava, insistentemente, batendo palmas em sua vizinha e após exaustivas tentativas conclui que a pessoa procurada não estava e casa.

Como percebi que estava, curiosamente, sendo observado pela atenta senhora, resolvi perguntar sobre a pessoa que procurava.

- Bom dia senhora!

Ela respondeu, informou e perguntou:

- Bom dia, você ta procurando a Maria? , ela não ta não! – O que você quer com ela? – Perguntou com uma mistura de curiosidade e desconfiança.

Identifiquei-me e perguntei:

- Meu nome é Durval, Dona Maria combinou uma visita para falarmos sobre o Cemitério Parque no qual trabalho, qual o sue nome, por favor?

- É Zilá. - Mas, a Maria ta querendo comprar um cemitério é?

Respondi:

- Pois é D. Zilá, nos marcamos para falarmos sobre uma campanha promocional de venda de prevenção de jazigo, ela ficou interessada. A propósito, a Senhora conhece ou já uviu falar do Cemitério Parque?

- Não conheço, mas já ouvi falar.

- A Senhora ouviu falar o que?

- Que é um cemitério muito bonito, mas que também é muito caro.

- Bom, D. Zilá, que ele é muito bonito é verdade, mas que é muito caro, já não concordo, vamos conversar em um lugar melhor para que eu possa lhe mostrar as promoções oferecidas a D. Maria.

Ela respondeu:

- Não sei não, como é que a Maria vai arranjar dinheiro para comprar um negócio desses, se ela não tem onde cair morta?

Foi ai que identifiquei o motivo da compra e Insisti:

- Pelo menos para a Senhora satisfazer a sua curiosidade, deixe-me mostrar a campanha promocional que foi oferecida a ela por telefone?

Ela, um pouco relutante, concordou e convidou-me para entrar. Já acomodado no sofá de sua sala perguntei:

- A Senhora conhece a D. Maria há muito tempo?

- Hiii meu filho, pra mais de vinte anos, nos fomos as primeiras moradoras desse bairro, eu cheguei primeiro e ela veio um ano depois, e continuou...

- No começo nos éramos muito amigas, mas de uns tempos pra cá, ela ficou metida a besta quase não cumprimenta os vizinhos, parece que tem o rei na barriga.

Para melhorar as minhas argumentações e identificar as perspectivas de negócios continuei a perguntar.

- A Senhora sabe onde ela foi, ela trabalha?

Ela respondeu:

- Trabalha nada, ela deve ta batendo perna por ai, só quem trabalha é o pobre marido que se mata em dois empregos. E ela complementou.

- É justamente por isso que eu acho que ela não pode comprar nada.

Essa foi a minha deixa para falar dos planos de pagamento e reforçar que a sua vizinha “com certeza” iria comprar a prevenção.

Iniciei a apresentação mostrando fotos do local, falando sobre as vantagens da compra preventiva e “principalmente” identificando o plano de pagamento que eu acreditava que a sua vizinha “desafeto” iria adquirir.

Ela não prestou atenção em quase nada do que falei, mas quando afirmei que a sua vizinha já era conhecedora dos planos apresentados é que ficou interessada em um determinado plano de compra ela “mais que pressa” falou:

- Se aquela morta de fome pode comprar um jazigo eu também posso.

Para reforçar mais essa afirmação complementei:

- Realmente, a senhora e sua família também é merecedora desse beneficio, e o momento é esse, afinal essa campanha logo acabará, e ai ficará mais difícil para adquirir essa prevenção, enquanto a família da Maria já estará prevenida, não é mesmo?

Esse foi o golpe fatal, imediatamente ele perguntou:

- A entrada tem que ser agora? – respondi:

- Sim, a entrada é no ato, para que a senhora possa aproveitar esse mesmo plano que ela vai fazer.

Ela pensou um pouquinho e perguntou:

- Mas o senhor não pode segurar um cheque por uns dias?

Mostrando “certa” resistência (teatral), aceitei o cheque pré-datado, para alguns dias como ela pediu, e o negocio foi concluído.

Ela comprou um jazigo igualzinho ao que ela “induzidamente” pressupunha que sua vizinha “metida” iria comprar.

Quando estávamos saindo, enquanto me despedia do D. Zilá, observei que alguém nos olhava da janelinha da porta da sala da casa de D. Maria, então acenei para a pessoa que nos observava chamando-a até o portão.

D. Zilá entrou, apressadamente, antes que a pessoa chegasse ao portão para me atender.

Como imaginava era a D. Maria que o tempo todo estava em casa e se fazia passar por ausente para não me atender, como pude descobrir depois.

Para identificar que o desafeto era recíproco foi fácil, bastou dizer que tinha acabado de sair da casa de D. Zilá e que ela havia comprado um jazigo.

Ela convidou-me para entrar (meio que mandado) dizendo:

- O Senhor queira entrar por favor.

Ao entrar tomei uma bronca:

O Senhor combinou de visitar-me primeiro, o que o senhor foi fazer lá?

Expliquei o que estivera, antes, em sua casa (como se ela não soubesse), mas como ela não estava perguntei a dona Zilá de seu paradeiro e conversando ela se interessou pelo assunto e me convidou para entrar..

Como descobri que ela estava em casa o tempo todo?  

Foi fácil!

Logo quando entrei na sala um garoto, de mais ou menos uns sete anos, perguntou para ela:

Mãe esse é aquele moço que tava ai batendo palma?

Ela ficou extremamente sem graça, e com o poder que só uma mãe tem mandou o fedelho se recolher, de castigo “é claro”, para seu quarto.

Ficamos um pouco sem graça, mas logo ela perguntou?

- O que foi que essa fofoqueira falou de mim?

- Nada! (respondi)

- O que foi que ela comprou?

Ai eu entro, mostrei o jazigo e o plano de pagamento que ela optou. Após algumas perguntas de rotina ela, apontando para um modelo de jazigo, disse:

- Quero esse outro modelo, é bem melhor do que o outro (que a D. Zilá comprou), assim eu não corro risco de ser vizinha daquela cascavel.

Finalizamos a venda e eu fiquei com a sensação de que D. Maria ainda ia dar um jeitinho de falar para D . Zilá que comprou um jazigo maior que o dela.

Até pensei em voltar na D. Zilá, mas achei “um pouco” perigoso.

Durval Tobias Filho

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O APRENDIZ

Imaginem esta cena:
Um sujeito amolando uma faca “com muita destreza” num velho esmerilho, com olhos fixo e esbugalhados, em sua direção, e a única coisa entre você e ele é um velho portão enferrujado e uns três metros de distância e “para completar” um cachorro, latindo e espumando feito um louco, amarrado em uma velha corda, nada confiável, tentando desesperadamente te recepcionar... Imaginou?
Essa foi a cena que vivi em uma visita onde estava acompanhado de um aprendiz de vendedor  que para o qual teria que passar o exemplo de equilíbrio, segurança, tranqüilidade e domínio da situação.
Foi assim que tudo começou...
Estávamos  realizando uma visita,  agendada pelo departamento de telemarketing, a um rapaz bem jovem, “coisa rara nesse tipo de venda”.
Ele havia combinado essa visita, com a operadora, para hora de seu almoço, pois trabalhava e costuma almoçar em casa.
A orientação da visita era para sermos pontuais e breves na apresentação, já que, iria nos atender na hora de seu almoço.
O meu pupilo, um jovem rapaz simpático, andava sempre bem trajado, tinha pouca experiência na área de vendas, mas era muito esforçado, e nesse, dia faria a sua primeira abordagem direta após o treinamento teórico interno.
Ele estava um pouco ansioso e no caminho eu o orientava como faríamos a abordagem e o tranqüilizava dizendo que eu daria o ponta pé inicial e ele daria a continuidade na apresentação.
Pois bem, chegamos no horário combinado.
Era uma casa humilde, ficava no fundo de um terreno em declive e entre a casa e o portão de entrada havia um barracão aberto, tipo uma oficina, onde nos deparamos com aquela pessoa estranha “que mencionei lá no inicio” e cachorro estressado.
Não tinha companhia e como já havíamos avistado uma pessoa, não batemos palmas e perguntamos sobre o Junior (o nome anotado na ficha ). Ele nos olhava fixamente e nada respondia, falei varias vezes achando que ele não estava ouvindo devido aos latidos do cachorro (ou querendo achar), mas  sem êxito ele não respondia.
 No fim o quem acabou alertando sobre a nossa presença foi o escandaloso cachorro, que fez com que a pessoa que procurávamos viesse atender.
Junior, um rapaz magro, estatura mediana, cabelos escorridos até o ombro (tipo chapinha), tinha modos delicados, muito educados e trajava um uniforme com crachá de supervisor de atendimento do hipermercado que trabalhava.
Abriu o portão e nos convidou para entrar, já fazendo a recomendação que seu tempo era curto,  e que deveríamos ser breves.
Descendo enquanto falava, desculpou-se dizendo que iria nos atender enquanto almoçava, pois precisava retornar ao trabalho.
Após alguns passos olhou para traz, notando que continuávamos no portão, parou e perguntou:
- Vocês não vêm?
- Bem... Junior é o seguinte... eu acredito que o seu cachorro não simpatizou muito com agente, será que ele não vai escapar dessa “faca” OPA... digo dessa corda?
Ele deu um sorriso de quem entendeu a mensagem, e disse:
- Meninos não se preocupem, o cachorro está bem amarrado e aquele senhor ali, falou apontando delicadamente, é o meu pai, mas ele é vai ficar bonzinho né Papi?
Ele retornou ao portão e em tom de confidencias, (colocando a mão ao lado da boca) disse que seu pai esteve internado até a pouco tempo e que sofria de  depressão  profunda, que agora estava bem melhor, mas que não falava com ninguém só ficava olhando sem dizer uma única palavra.
- Você não tem medo que ele se machuque com aquela faca? Perguntei.
- É claro que não, antes dele adoecer era o faz tudo da vila, encanador eletricista e trabalhava ali no barracão, falou apontado para o mesmo.
- Agora o  único modo de deixá-lo calmo é dar alguma coisa para ele fazer.
“Mas precisava ser uma faca para amolar?” Pensei comigo.
Vencidos pelos “fortes” argumentos do Junior iniciamos a nossa descida.
Pé a pé, um olho no cachorro, outro no pai do Junior, que nos seguia com o seu olhar enigmático e constrangedor.
Entramos na casa pela porta da cozinha e encontramos sua mãe encostada num armário de fórmica, trajando um avental manchado de gordura que também serviu de tolha para ela enxugar as mãos antes de nos cumprimentar.
Era uma simpática senhora gordinha, que junto com filho, insistiram muito para que almoçássemos, e nós educadamente recusamos.
Enquanto ele almoçava ela se manteve em pé encostada no armário ouvindo o que falávamos e vez ou outra fazia alguma pergunta ou simplesmente acenava afirmativamente para os nossos argumentos.
Junior era filho único, os pais aposentados e com problemas de saúde, avós idosos  e ele era o responsável por todos.
Estávamos falando com a pessoa certa, apesar da pouca idade ele era muito ajuizado e demonstrava uma grande preocupação com sua família.
O Aprendiz deu continuidade à apresentação do Jazigo e com perguntas objetivas identificou a preocupação do rapaz com os cemitérios municipais da região e focou a sua argumentação nesse tipo de preocupação.
Deu certo, mas a venda não foi concluída, devido à ausência dos avós do Junior que havia prometido colaborar com ele na compra da prevenção.
Seus avós, embora muito velhinhos, moravam em uma casa próxima,  mas devido ao pouco tempo, que tínhamos não foi possível falar com eles e combinamos um retorno para o próximo fim de semana.
Essa foi uma venda que costumo chamar de “venda de retorno”, que é quando o cliente protela o fechamento por algum motivo.
Bom... agora restava-nos sair inteiros daquela situação.
Para nossa grata surpresa o pai do Junior já havia saído do barracão e agora estava assistindo televisão, como podemos observar pela janela da sala, mas o cachorro voltou a ativa e voltou e com muita fome e vontade de escapar... até que conseguiu.
Quando percebemos o aprendiz de vendedor já estava correndo a nossa frente e o cachorro, arrastando a velha corda, estava em seu encalço, mas o garoto foi muito rápido passou pelo portão, feito uma bala, fechando o portão praticamente no focinho do cachorro.
Quanto a mim estava parado no mesmo lugar, pois aprendi “em uma experiência anterior” que; correr é a o pior negócio nessa hora.
Fera dominada, desculpas aceitas “pelo menos da minha parte” combinamos o retorno.
Retornamos no fim de semana seguinte, fomos atendidos pelo Junior e pelo simpático casal de idosos, que já estavam a par de tudo e já havia feito a opção do tipo de jazigo e a forma de pagamento.
Tomamos um saboroso café e mais uma vez fechamos um excelente negócio.
O Aprendiz se tornou um ótimo vendedor e sempre que possível perguntava para a operadora:
 – Você sabe se tem cachorro ?
Durval Tobias Filho