Quem sou eu

Minha foto
Palestrante, Training, Consultor Comercial e Sócio do Cemitério Vertical Metropolitano em São Vicente - SP.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A INVEJA

Ela varria, displicentemente, a calçada da frente de sua casa, enquanto me observava de canto de olho denotando uma curiosidade indisfarçável.

Eu estava, insistentemente, batendo palmas em sua vizinha e após exaustivas tentativas conclui que a pessoa procurada não estava e casa.

Como percebi que estava, curiosamente, sendo observado pela atenta senhora, resolvi perguntar sobre a pessoa que procurava.

- Bom dia senhora!

Ela respondeu, informou e perguntou:

- Bom dia, você ta procurando a Maria? , ela não ta não! – O que você quer com ela? – Perguntou com uma mistura de curiosidade e desconfiança.

Identifiquei-me e perguntei:

- Meu nome é Durval, Dona Maria combinou uma visita para falarmos sobre o Cemitério Parque no qual trabalho, qual o sue nome, por favor?

- É Zilá. - Mas, a Maria ta querendo comprar um cemitério é?

Respondi:

- Pois é D. Zilá, nos marcamos para falarmos sobre uma campanha promocional de venda de prevenção de jazigo, ela ficou interessada. A propósito, a Senhora conhece ou já uviu falar do Cemitério Parque?

- Não conheço, mas já ouvi falar.

- A Senhora ouviu falar o que?

- Que é um cemitério muito bonito, mas que também é muito caro.

- Bom, D. Zilá, que ele é muito bonito é verdade, mas que é muito caro, já não concordo, vamos conversar em um lugar melhor para que eu possa lhe mostrar as promoções oferecidas a D. Maria.

Ela respondeu:

- Não sei não, como é que a Maria vai arranjar dinheiro para comprar um negócio desses, se ela não tem onde cair morta?

Foi ai que identifiquei o motivo da compra e Insisti:

- Pelo menos para a Senhora satisfazer a sua curiosidade, deixe-me mostrar a campanha promocional que foi oferecida a ela por telefone?

Ela, um pouco relutante, concordou e convidou-me para entrar. Já acomodado no sofá de sua sala perguntei:

- A Senhora conhece a D. Maria há muito tempo?

- Hiii meu filho, pra mais de vinte anos, nos fomos as primeiras moradoras desse bairro, eu cheguei primeiro e ela veio um ano depois, e continuou...

- No começo nos éramos muito amigas, mas de uns tempos pra cá, ela ficou metida a besta quase não cumprimenta os vizinhos, parece que tem o rei na barriga.

Para melhorar as minhas argumentações e identificar as perspectivas de negócios continuei a perguntar.

- A Senhora sabe onde ela foi, ela trabalha?

Ela respondeu:

- Trabalha nada, ela deve ta batendo perna por ai, só quem trabalha é o pobre marido que se mata em dois empregos. E ela complementou.

- É justamente por isso que eu acho que ela não pode comprar nada.

Essa foi a minha deixa para falar dos planos de pagamento e reforçar que a sua vizinha “com certeza” iria comprar a prevenção.

Iniciei a apresentação mostrando fotos do local, falando sobre as vantagens da compra preventiva e “principalmente” identificando o plano de pagamento que eu acreditava que a sua vizinha “desafeto” iria adquirir.

Ela não prestou atenção em quase nada do que falei, mas quando afirmei que a sua vizinha já era conhecedora dos planos apresentados é que ficou interessada em um determinado plano de compra ela “mais que pressa” falou:

- Se aquela morta de fome pode comprar um jazigo eu também posso.

Para reforçar mais essa afirmação complementei:

- Realmente, a senhora e sua família também é merecedora desse beneficio, e o momento é esse, afinal essa campanha logo acabará, e ai ficará mais difícil para adquirir essa prevenção, enquanto a família da Maria já estará prevenida, não é mesmo?

Esse foi o golpe fatal, imediatamente ele perguntou:

- A entrada tem que ser agora? – respondi:

- Sim, a entrada é no ato, para que a senhora possa aproveitar esse mesmo plano que ela vai fazer.

Ela pensou um pouquinho e perguntou:

- Mas o senhor não pode segurar um cheque por uns dias?

Mostrando “certa” resistência (teatral), aceitei o cheque pré-datado, para alguns dias como ela pediu, e o negocio foi concluído.

Ela comprou um jazigo igualzinho ao que ela “induzidamente” pressupunha que sua vizinha “metida” iria comprar.

Quando estávamos saindo, enquanto me despedia do D. Zilá, observei que alguém nos olhava da janelinha da porta da sala da casa de D. Maria, então acenei para a pessoa que nos observava chamando-a até o portão.

D. Zilá entrou, apressadamente, antes que a pessoa chegasse ao portão para me atender.

Como imaginava era a D. Maria que o tempo todo estava em casa e se fazia passar por ausente para não me atender, como pude descobrir depois.

Para identificar que o desafeto era recíproco foi fácil, bastou dizer que tinha acabado de sair da casa de D. Zilá e que ela havia comprado um jazigo.

Ela convidou-me para entrar (meio que mandado) dizendo:

- O Senhor queira entrar por favor.

Ao entrar tomei uma bronca:

O Senhor combinou de visitar-me primeiro, o que o senhor foi fazer lá?

Expliquei o que estivera, antes, em sua casa (como se ela não soubesse), mas como ela não estava perguntei a dona Zilá de seu paradeiro e conversando ela se interessou pelo assunto e me convidou para entrar..

Como descobri que ela estava em casa o tempo todo?  

Foi fácil!

Logo quando entrei na sala um garoto, de mais ou menos uns sete anos, perguntou para ela:

Mãe esse é aquele moço que tava ai batendo palma?

Ela ficou extremamente sem graça, e com o poder que só uma mãe tem mandou o fedelho se recolher, de castigo “é claro”, para seu quarto.

Ficamos um pouco sem graça, mas logo ela perguntou?

- O que foi que essa fofoqueira falou de mim?

- Nada! (respondi)

- O que foi que ela comprou?

Ai eu entro, mostrei o jazigo e o plano de pagamento que ela optou. Após algumas perguntas de rotina ela, apontando para um modelo de jazigo, disse:

- Quero esse outro modelo, é bem melhor do que o outro (que a D. Zilá comprou), assim eu não corro risco de ser vizinha daquela cascavel.

Finalizamos a venda e eu fiquei com a sensação de que D. Maria ainda ia dar um jeitinho de falar para D . Zilá que comprou um jazigo maior que o dela.

Até pensei em voltar na D. Zilá, mas achei “um pouco” perigoso.

Durval Tobias Filho

Nenhum comentário:

Postar um comentário