Quem sou eu

Minha foto
Palestrante, Training, Consultor Comercial e Sócio do Cemitério Vertical Metropolitano em São Vicente - SP.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

VIZINHOS ETERNOS

OU ETERNOS VIZINHO

Eram, aproximadamente, treze horas da tarde de um belo dia de domingo ensolarado, quando cheguei ao local combinado da visita.

Fui atendido por uma simpática senhora, com um lenço na cabeça e um avental de cozinheira, tingido de molho, de sei lá o que,  indicando que ela estava preparando a xepa do domingo.

Ao perguntar pela pessoa procurada ela indicando-me, apontando com o dedo, um barzinho onde o seu Marido João Carlos estava, naquela mesma rua, e alertou-me:

Olha, ele esta desde cedo, jogando e bebendo, e acho que já não esta em condições de te atender, mas se você quiser arriscar...
- Mesmo assim vou tentar- falei - Qualquer coisa eu volto a falar com a senhora e marcamos outro dia, tudo bem?

Ela concordou com um “você quem sabe” e eu me encaminhei ao local indicado.

Ele havia aceitado o agendamento de uma de nossas operadoras, dias atrás, sob a alegação de uma campanha que estávamos realizados em seu bairro sobre a venda preventiva de jazigo.

Chegando lá o Sr. João Carlos estava jogando sinuca com um amigo “seu vizinho” e  após eu me apresentar, disse em voz alta para todos os presentes:

“Demonstrando um pouco de embriaguês misturado com excesso de bom humor”.
 - Ai pessoal (chamando a atenção de todos),  esse cara quer me enterrar vivo, ele ta me vendendo um buraco lá no cemitério, alguém ai quer comprar?

É lógico que todos riram e começaram a fazer as velhas piadinhas do tipo:

- É melhor você comprar mesmo, afinal já esta com o pé na cova. (risos).
- Como chama o seu amigo ai (eu)... é o Zé do caixão? (risos).
- Nesse cemitério tem cachaça e mesa de sinuca? Se tiver eu compro (mais risos).

E é lógico que eu ria junto, e até emendei com outra do tipo:

- Para o pessoal que pratica o esporte de vocês temos jazigos especiais que além de cachaça, mesa de bilhar ainda tem mesa pimbolim, de dominó de carteado e principalmente garçonetes de micro saia tipo, Sheila Mello. (famosa dançarina de um conjunto musical, com curvas mais famosas ainda), Todos riram e o clima foi ficando totalmente descontraído impossibilitando qualquer abordagem séria sobre o assunto.

Quando houve um intervalo chamei o João Carlos (agora meu amigo), para porta do bar longe dos seus colegas e disse:

- João, é o seguinte: - Agora não é o melhor momento para tratarmos desse assunto, certo?
Busquei a concordância e ele acenou positivamente.

- Sei que o assunto lhe interessa, mas agora nesse momento você quer mais é se divertir com os seus amigos e descansar um pouco do trabalho da semana. E completei antes que ele pudesse responder.

- E você esta certo, afinal a vida não é só trabalho e precisamos nos divertir, mas como sei “e você também sabe” que uma hora ou outra vamos ter que tratar desse assunto, então gostaria de combinar uma visita para domingo que vem (pois sabia que ele trabalhava de segunda a sábado), um pouco mais cedo “antes da diversão começar”, (falei em tom de riso), para podermos conversar melhor, qual seria o seu primeiro horário no próximo domingo?

- É meu amigo você tem razão, eu estou meio baleado (alcoolizado), vamos deixar para a semana que vem mesmo, vamos combinar para as oito horas da manhã, só que quero ir até lá conhecer (no cemitério), tudo bem?

- Sem problemas, então está combinado, domingo que vem às oito da manhã estarei aqui para levá-lo ao cemitério.

 De súbito ele virou-se para dentro do bar e chamou o seu parceiro de sinuca (seu vizinho), que naquele momento bebericava um copo de cerveja no balcão junto a outros amigos.

- Mané dá um pulo aqui.
- Mané você tem algum compromisso para domingo que vem, lá pelas oito horas da manhã?
- Não.
- Então você ta convocado para ir ao cemitério comigo conhecer a sua nova morada.

Nisso algumas pessoas ouviram e começou tudo novamente:

- Então, o Zé do caixão conseguiu né João ? Vai levar você e o Mané para morar no cemitério? (muitos risos).

Para não perder o clima e não contrariar os novos amigos fiz uma expressão de mistério esfregando as mãos como fazem os vilões nos filmes de terror e todos caíram na gargalhada.

Quase não conseguia sair do boteco de tanto que era a insistência dos meus novos amigos para tomar uma cervejinha, uma cachacinha, um torresminho... Mas resisti aos apelos e sai de lá sem beber nada (mas com uma sede), e fui concluir as visitas que tinha para fazer naquele dia.

Chegou o próximo domingo e eu estava um pouco preocupado, enquanto me encaminhava para casa do João pesava com os meus botões. 

Será que ele vai lembrar-se do combinado?
Será que o Mané não vai atrapalhar?

Acho que devia ter voltado a casa dele e confirmado a visita com a esposa... mas agora paciência seja o que Deus quiser.

Chegando em sua casa a sua mulher me atendeu já avisando:

- Ele esta se arrumando e pediu para você acordar o Mané que mora ai do lado que ele já vai sair.

Respirei aliviado, ele lembrou ufa.
Agora resta o Mané... vou fazer figa.(pensei)

Não precisei bater palma, nem fazer figa, ele já estava de saída quando cheguei ao seu portão. Era um sujeito de poucas palavras cara amarrada, moreno, estatura média e corpo de estivador de meia idade. Lembrei-me que no episódio do bar, na semana passada, ele não falava nada só sorria discretamente com as tiradas dos seus amigos.

Logo que o João entrou no carro se desculpou pelo mau jeito da semana passada e esclareceu que convidou o Mané porque eles eram muito amigos e que eram vizinhos há muitos anos e ele pretendia levar essa amizade para a eternidade, o Mané sorriu e concordou com um aceno de cabeça.

Acrescentou que se ele comprar o Mané, também tem que comprar... Eu já gostava do João e depois dessa declaração passei a gostar mais ainda.

Mas, o Mané ainda era motivo de preocupação, pois aqueles que menos falam são aqueles que nos surpreendem, pois por não falarem não sabemos quais as duvidas que vão a suas mentes e pior ainda não sabemos que argumentos utilizar para persuadi-los. 

Chegamos ao local e “ao que eu me lembre” o Mané não tinha pronunciado mais do que meia dúzias de palavras ao contrário do João que  só parava de falar quando respirava.
Quando eu conseguia “nesses intervalos de respiração” trabalhava os meus argumentos de vendas as vantagens da prevenção etc.

Logo quando chegamos perguntei ao João o que achou do empreendimento.
- Muito bacana nem parece um cemitério, parece um clube de campo, dá até vontade de morar aqui.

Perguntei para o Mané a mesma coisa:
- Bonito.

Apresentei a infra estrutura do empreendimento, lanchonete, salas de estar, capela, jardins, Parquinho, lagos etc. e perguntei novamente a mesma coisa:

João:
- Lindo, maravilho, legal, etc.

Mané:
- Bom.

Foi então que resolvi focar a minha ação para o João e buscar o fechamento com ele para “quem sabe induzir” uma reação no Mané.

Deu certo, para minha grata satisfação o Mané concordou com tudo que o João falou e comprou um jazigo igualzinho ao do amigo, nas mesmas condições sem barganhar ou questionar nada.

Durante nossa conversa “ eu e o João é claro” ele falou-me que a sua sogra fora sepultada em um jazigo emprestado e a família que emprestou o estava infernizando a sua para providenciar a exumação, e que só depois da morte da sogra foi que percebeu a necessidade desse tipo de prevenção.

Quanto ao Manoel eu só posso concluir que o motivo que o levou a adquirir o jazigo foi a fraternal amizade que existia entre eles.