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Palestrante, Training, Consultor Comercial e Sócio do Cemitério Vertical Metropolitano em São Vicente - SP.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Mudança de Plano

Era uma cliente que havia agendado um retorno com uma consultora que se desligou da empresa e repassou a ficha para que outro vendedor a fizesse.
Na ocasião eu estava no comando de uma equipe de vendas composta por aproximadamente  dez vendedores e todos estavam compromissados com suas visitas e retornos agendados.
Como a entrevista estava condicionada a uma visita ao cemitério, que ficava um pouco distante do local da visita, resolvi fazê-la para não comprometer o roteiro dos vendedores.
Chegando lá fui recepcionado pelo marido da senhora que havia combinado o retorno.
Um senhor de aproximadamente sessenta, cabelos brancos, rosto vincado pelo tempo, pele e olhos claros, vestindo apenas uma calça jeans, peito, braços e mãos sujos de barro vermelho, e numa das mãos uma enorme tesoura de cortar grama, o que sugeria que estivesse mexendo em um jardim ou horta.
Após eu me apresentar, e pedir para chamá-la, ele se identificou como Sr. João o marido e meio grosseiramente disse:
- Olha moço, minha esposa esta sim, mas acho que ela não vai quere comprar nada não, ela acabou de ficar desempregada e não pode assumir nenhum compromisso.
Eu Perguntei:
- Senhor João, por favor, não me leve a mal, mas é que assumimos o compromisso de levá-la ao cemitério, e por uma questão de palavra e respeito a sua esposa eu preciso falar com ela para cancelar ou não a visita.
- O Sr poderia fazer a gentileza de chamá-la?
 Ele um pouco contrariado aceitou as minhas alegações e gritou ainda no portão:
- Zefa, o moço do cemitério tá aqui e quer falar com você.
Logo ela veio e me convidou para entrar.
Dona Josefa, uma senhora miúda, bem magrinha, cabelos pintado, mostrando uma vaidade moderada, um pouco mais nova que o marido, simpática e educada.
Conversamos em uma pequena área em frente à porta da cozinha sentados em banquinhos de madeira de frente para uma horta e um viveiro de pássaros e codornas.
O marido nos deixou a sós e continuo os seus afazeres, mas, a antena continuava ligada no que falávamos.
Para descontrair o ambiente fiz algumas perguntas sobre as hortaliças e a criação de pássaros e codornas, que foram respondidas (intrometidamente) pelo Sr João.
- É lógico que as perguntas eram indiretamente para ele,... e deu certo.
Conversamos um pouco sobre a pequena plantação e as criações que ele tinha no local.
Coloquei em pratica o pouco que sabia sobre plantações e pássaros, o que fez do Sr João meu  mais novo amigo de infância.
Agora que tinha o ambiente certo para falarmos sobre o assunto que me levou lá. Desculpei-me pela consultora explicando que ela não trabalhava mais conosco por motivo de ordem pessoal e que eu estava ali para cumprir o que fora combinado.
 Ela já conhecia os preços e as condições de compra e tinha em suas mãos os orçamentos deixados pela consultora.
Infelizmente a informação do marido era verdadeira, entre a visita de apresentação e o retorno para conhecer o cemitério ela ficou “de fato” desempregada.
Mesmo diante dessa alegação mantive o convite de levá-la ao cemitério e lá no fundinho ainda tinha esperança de virar o negócio.
Ela aceitou o passeio e convidamos o meu amigo o Sr João que declinou o convite alegando estar muito ocupado com os seus afazeres, despedimo-nos e fomos.
Procurei assuntos do cotidiano para conversarmos, mas sempre falando da importância da prevenção, das vantagens da compra preventiva etc.
Aproveitei também para investigar sobre sua profissão, quanto tempo trabalhou no ultimo emprego e quais eram os planos dela para o futuro, etc.
Também pude identificar o motivo do interesse na compra do jazigo preventivo.
Ela informou que há dois anos sepultou sua mãe em um cemitério municipal contra a vontade dela, pois quando viva sempre pediu que a família comprasse um lugar agradável e bonito para que ela pudesse descansar em paz.
Descobri que dona Josefa era uma cozinheira de mão cheia, que trabalhou doze anos “só nesse ultimo emprego” na casa de uma família muito abastada e que a dispensaram por estar indo embora do país.
Quanto aos planos dela, eram meio controversos, ora falava que iria voltar a trabalhar ora dizia que não iria voltar a trabalhar para ninguém. O que me fez deduzir, que ela tinha outros recursos, portanto poderia assumir compromissos financeiros
Em posse de tanta informação trabalhei argumentos emocionais e racionais, mas mesmo assim ela ainda não havia se decido com relação à compra.
Chegando lá apresentei toda infra-estrutura do empreendimento valorizei os diferenciais de beleza, paisagismo, integração com a natureza (uma vez que isso parecia importante para ela), mas não consegui definir a venda no local.
A minha grande preocupação era com o meu amigo João, atrapalhasse a venda alegando que não iria ajudar ou assumir responsabilidades, embora em nenhum momento ela o tenha mencionado ele como colaborador na aquisição.
Como também me preocupava o fato de não ter trabalhado nada a respeito de prevenção com ele, portanto não sabia ao certo qual a sua posição com relação ao assunto.
Também tentei fechar a venda dentro do carro, quando paramos em frente a sua casa,  mas ela não aceitou e educadamente me convidou para tomar um café e resolver as coisas lá dentro.
Não tive alternativa, e entrei.
Enquanto ela preparava o café aproveitei para puxar uma prosa com o João que se mostrou muito a vontade a ponto de me oferecer uma dose de cachaça da boa “fabricação própria” que “é claro” educadamente recusei.
Tentei falar de prevenção, de jazigo, de cemitério e ele desconversava, dizia que ele não queria saber dessas coisas e que era a Zefa que resolvia, então resolvi deixar pra lá e continuamos a prosear.
Bom, fiquei um pouco mais tranqüilo, afinal já que era ela é quem resolvia não precisava me preocupar “muito”.
Foi só chegando a sua casa que consegui que ela resolvesse fazer a aquisição.
Uma vez que ela não contestou o que ele disse, fui logo tirando os papeis da pasta para serem preenchidos e perguntei:
- DONA, Josefa qual parcelamento achou mais adequado?
- Como pretende pagar a entrada em dinheiro ou em cheque?
Antes que ela que ela pudesse responder o meu amigo me causou um ligeiro mal estar dizendo:
- O Zefa, você ta maluca ficou desempregada e vai assumir prestações?
Para o meu desespero ela disse:
- É mesmo João você tem razão, vai saber quando eu vou conseguir outro emprego.
E antes que eu pudesse intervir, ele disse:
- Porque você não paga a vista, assim você não fica se preocupando com prestação todo mês.
E para a minha alegria, Ela respondeu.
- É meu velho acho que vou fazer assim mesmo.
E perguntou:
- Você consegue um desconto se eu pagar a vista?
É lógico que consegui um desconto.
Como ela  havia recebido a rescisão contratual de trabalho e havia depositado na caderneta de poupança, então combinamos que iríamos juntos, no dia seguinte, para ela sacar o dinheiro e efetuar o pagamento.
Naquele dia fiz uma venda, que por um momento estava perdida, ganhei uma dúzia de ovos de codorna, algumas hortaliças e fiz um amigo.

Durval Tobias Filho

Um comentário:

  1. Quando você pensa que tudo está perdido......páááá....vem a surpresa...é isso aí, seria interessante que muitos vendedores pudessem ter acesso a essas histórias...

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